José Carlos Pöppl Filho

Hino Rio-Grandense

José Carlos Pöppl Filho
Graduado em História
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Fiquei perplexo ao tomar conhecimento pela coluna Espeto Corrido de 10 de março que o presidente da Câmara de Pelotas não permite a execução do Hino Rio-Grandense em solenidades legislativas por considerá-lo racista. Tal atitude já foi motivo de protesto por parlamentares negros na cerimônia de posse de vereadores na Câmara Municipal de Porto Alegre, no primeiro dia de 2021, deixando de levantarem-se durante a execução do Hino.

No entender desses edis, o Hino tem um trecho de cunho racista, quando diz: "povo que não tem virtude acaba por ser escravo". Aí está o racismo, segundo o vereador e os deputados. Ora, certamente não souberam interpretar a letra, que não faz referência ao escravo, mas sim ao povo que não tem virtude. Não há aí, portanto, nenhuma conotação racista.

Vejam a que ponto chegamos, quando nossos representantes deixam de se ater a temas que afetam a população, como saúde, educação e segurança, para se preocuparem com o nosso Hino e ainda desrespeitá-lo ao não se postarem de pé e em posição de apreço durante a sua execução, bem como deixarem de executá-lo em solenidades.

A invenção ou descoberta das notas características que farão parte da composição de um acorde musical, assim como a adoção de conceitos já existentes que serão utilizados para entretecer a tessitura musical na qual se apoiou o maestro Joaquim José Mendanha para a composição do Hino constituem atos criadores que não ficam a dever às diversas formas artísticas de expressão.

Não apenas se escrevem obras musicais, de um ponto de vista meramente técnico, mas sim são compostas como fazem os músicos. A letra do Hino de Francisco Pinto da Fontoura, bem como os textos relacionados a outros campos de saber que fazem parte da palheta das ciências humanas, podem se tornar pontos de confluência entre a história e a arte. Por isso, nobres edis, quando não se é da área, ao tentar analisar um texto ou processo histórico do passado, o resultado é catastrófico, produzindo incontornáveis estranhamentos e drásticas deformações.

Assim, senhores parlamentares, sugiro deixar para quem é da área fazer propostas de alterações na letra do Hino, bem como voltar a executá-lo em solenidades no Legislativo, pois não se trata apenas de uma simples operação, mas também de uma arte, quando se cultua um símbolo oficial do nosso Estado, que é o Hino Rio-Grandense.

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